terça-feira, 23 de junho de 2009

CUIDADO DE MÃE

Uma das primeiras lições que uma mãe ensina ao filho é o cuidado que ele deve ter com o manuseio do dinheiro.

O dinheiro é sujo, eis a lição. Depois de tatear uma nota que passara por mãos desconhecidas, impregnando-se de micróbios, o bom filho deveria lavar as suas.

Com o tempo, mercê do pânico das mães prestimosas, o dinheiro foi sendo extinto. Foi substituído pelos cartões de crédito e pelos impulsos eletrônicos.

No Senado, o dinheiro ganhou um formato ideal, que mãe nenhuma foi capaz de prever. Ali, as notas viraram “atos secretos”. Nada mais anti-séptico do que o dinheiro convertido em papéis que não podem ser tocados nem pelo olho de estranhos.

Deve-se ao repórter Leonardo Souza a penúltima descoberta sobre as serventias dos atos higienizados do Senado.

Serviram para tonificar os contracheques do ex-todo-poderoso-diretor-geral do Senado, Agaciel Maia. Responsável pela edição dos atos clandestinos, Agaciel usou-os para elevar o próprio salário. Beleza.

Dos computadores do Senado, o dinheiro viajou pelo éter e estacionou, na forma de registros eletrônicos, na conta bancária de Agaciel. Ao prestar contas à Receita Federal, o ex-super-diretor infomou que recebera do Senado, no ano da graça de 2006, R$ 415 mil. Coisa de R$ 31,9 mil por mês, incluindo o 13º salário. Um valor que supera o teto da administração pública: R$ 24,5 mil, o salário dos ministros do STF.

No último mês de março, quando se descobriu que Agaciel sonegara a posse de uma mansão de R$ 5 milhões, ele havia informado que recebia R$ 18 mil líquidos. A julgar pelos dados armazenados nos arquivos do fisco, era lorota. A despeito de tudo, Agaciel diz: “Não há nada de errado nos meus vencimentos”.

No passado, a psicanálise costumava atribuir todos os males do mundo às mães. Com o tempo, elas foram sendo anistiadas.

Fica claro agora que, ao menos no caso dos contribuintes brasileiros, as mães falharam gravemente.

A prevalecer o que diz Agaciel, fica provado que, no Senado, nenhum dinheiro é sujo.

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