segunda-feira, 22 de junho de 2009

CHANTAGEM

Há uma fome de limpeza no ar. A reiteração da indecência, um caso se sucedendo ao outro, expôs no Senado a cara de um monstro medonho: a impunidade.

O país deseja transformar a cleptocracia brasileira numa democracia real. Os senadores devem dizer ao país de que matéria-prima são feitos. Hoje, tem-se a impressão de que são feitos de amoralidade e cumplicidade.

Há, porém, um problema: a perversão perdeu no Senado aquele ton-sur-ton que propiciava aos delinqüentes o escudo da indistinção. No Senado dos dias que correm, a cafajestice tem cara de cafajestice. O repugnante tem cara de repugnante. A imundície tem cara de lama.

Diante de um cenário assim, tão claramente sujo, só há duas alternativas: ou o senador empunha o frasco de detergente ou se associa à conivência. Na semana passada, Sarney dissera que a crise não era dele, mas do Senado. O plenário ouviu calado.

Nesta segunda (22), as diferenças começaram a emergir. Acossado por “chantagens” que atribui ao Todo-Poderoso Agaciel Maia, Arthur Virgílio escalou a tribuna. Chamou os ex-diretores Agaciel e João Zoghbi pelo nome: “bandidos”, “camarilha”, “ladrões”, “corja”... Pediu a demissão da dupla. E disse o óbvio: não agiram sozinhos. Há senadores por trás dos dois ex-diretores, disse Virgílio. Dirigiu-se a Sarney, que, a seu pedido, presidia a sessão. O líder tucano disse ao presidente do Senado que, dissociando-se da “camarilha”, o terá como aliado. Protegendo-a, o terá como “adversário ferrenho”. Virgílio disse que não hesitará em levar Sarney ao Conselho de Ética se julgar que é o caso. Afirmou que Sarney “não precisa sobreviver”, o Senado sim. Virgílio apontou as “chatagens” de Agaciel como causa do silêncio dos senadores. Provocadas, as vozes começaram a soar.

Cristovam Buarque foi ao microfone para informar que, de fato, considerava-se chantageado. “Esse tipo de coisa obriga a gente a radicalizar. Começa a dar impressão de que quem não toma posições firmes tem rabo preso. Não tenho rabo preso”, disse.

Pedro Simon negou Virgílio. Disse que, quando silencia, o faz por conta própria, não em função de chantagens. Dirigindo-se a Sarney, Simon espegou: “Estamos atingindo o limite do limite. Alguma coisa precisa ser feita. Estamos no fundo do poço.

Na semana passada, Sarney dissera que não havia atos secretos no Senado. O plenário, de novo, silenciou. Virgílio agora fala: “Aquela desculpa abobalhada, tola, atrasada, retardada, atoleimada, aquela parvoíce de que não havia atos secretos cai por terra...” “Tanto que o senador Heráclito Fortes [primeiro-secretário] sai do hospital para vir dizer à casa quais são os atos secretos. Há atos secretos”.

Sim, há atos secretos. O que fazer? Vamos descobrir, então, de que material são feitos os senadores.

Ficou boiando no ar uma pergunta: O que será feito dos senadores que, no dizer de Virgílio, estão por trás dos malfeitores?

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