segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O QUE É UM TUCANO

Avis rara, animal político com grave risco de extinção, o tucano se diferencia dos outros animais. Identifiquemos suas características, antes que seja tarde demais: O tucano tem certeza que tem razão em tudo o que diz e faz. Lê a Folha de São Paulo cedinho e acredita em tudo o que lê. Nunca foi à América Latina, considera o continente uma área pré-capitalista e, portanto, pré-civilizatória. Considera a Bolívia uma espécie de aldeia de xavantes e a Venezuela uma Albânia. O tucano nunca foi a Cuba, mas achou horrível. Foi a Buenos Aires (fazer compras com a patroa), mas considera a Argentina uma província européia. Considera FHC merecedor de Prêmios Nobel – da Paz, de Literatura, de física, de química, quaisquer. Considera o povo muito ingrato, ao não reconhecer o bem que os tucanos – com FHC à cabeça - fizeram e fazem pelo país. A cada derrota acachapante, o tucano volta à carga da mesma maneira: ele tinha razão, o povo é que não o entendeu. Tucano acha o povo malcheiroso. Considera que São Paulo (em particular os Jardins paulistanos) o auge da civilização, de onde deve se estender para as mais remotas regiões do país, para que o Brasil possa um dia ser considerado livre da barbárie. Mora nos Jardins ou ambiciona um dia morar lá. É branco ou se considera branco. Compra Veja, mas não lê. (Ele já leu a Folha). O tucano tem esperança de retomar o movimento Cansei! Tem saudades de 1932. Venera Washington Luis e odeia Getúlio Vargas. Só vai a cinema de shopping. Só vai a shopping. Freqüenta a Daslu, mesmo que seja por solidariedade às injustiças sofridas em função da ação da Justiça petista. O tucano nem pronuncia o nome do Lula: fala Ele. Conhece o Nordeste pelas novelas da Globo. Dorme assistindo o programa do Jô. Acorda assistindo o Bom dia Brasil. Acha o Galvão Bueno a cara e a voz do Brasil. O tucano recorta todos os artigos da página 2 da Folha para ler depois. Acha o Serra o melhor administrador do mundo. Acha Alckmin encantador. Tem ódio de Lula porque tem ódio do Brasil. Sempre acha que mereceria ter triunfado. O tucano é mal humorado, nunca sorri e quando sorri – como diz The Economist sobre o candidato tucano - é assustador. Não tem espírito de humor. Também não tem motivos para achar graças das coisas. É um amargurado com o mundo e com as pessoas pelo que queria que o mundo fosse e não é. O tucano considera a Barão de Limeira sua Meca. Acha o povo brasileiro preguiçoso. Acha que há milhões de “inimpregáveis” no Brasil. Acha a globalização “o novo Renascimento da humanidade”. O tucano se acha. O tucano pertence a uma minoria que acha que pode falar em nome da maioria. O tucano é um corvo disfarçado de tucano.

by Emir Sader


Em tempo1: Ninguém precisa acionar a Justiça para ter “direito de resposta”. Este espaço é livre e democrático. Assim como na Blogesfera.


Em tempo2: O que Serra pregou escondido no Clube da Aeronáutica?



http://noticias.uol.com.br/politica/pesquisas/

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

O "AMIGÃO" VISTO PELO RETROVISOR

Em outubro de 2002, em momento igualmente desfavorável como candidato de FHC contra Lula, Serra que hoje se apresenta como o novo amigão do peito do Presidente da República, dizia coisas distintas sobre o adversário. A tese da ‘inexperiência’ e do ‘despreparo’ para chefiar o país, agora endereçada contra Dilma Rousseff, era recorrente na boca do tucano e da mídia que o apoiava. Em vez da ‘mulher inexperiente, que nunca foi eleita para nada’, o alvo era o metalúrgico ‘ que nunca administrou nada’, como alardeava a matraca conservadora do candidato e de sua comitiva. Liderar sindicatos e conduzir greves históricas, como se sabe, pertence ao universo do nada na visão do conservadorismo nativo, que já nasce póstumo graças a uma vocação inata para mandar e ser obedecido. Inclui-se entre os clássicos dessa visão da casa-grande, o episódio-síntese da cordialidade do serrismo em relação a Lula. Em plena campanha, o herdeiro de conhecido jornal de São Paulo, em almoço na sede da empresa, apontaria seu dedo magro e deselegante para Lula a ponto de causar constrangimento no próprio pai, então diretor do veículo e hoje falecido. Apoplético, o filho que atende pelo diminutivo, desautorizou o candidato-operário a postular a presidência entre outras coisas por não ter diploma universitário e não falar inglês. Ontem, como hoje, mídia e candidato tucano operavam na cadência de um jogral. Se o petista vencesse as eleições (como de fato venceu e gerou 14 milhões de empregos até agora) o Brasil, de acordo com a pregação do tucano, seria palco de uma inevitável tragédia econômico financeira, associada a devastadora desestabilização política. Segundo o ‘amigão’, Lula na presidência cindiria o Brasil, a exemplo do que já ocorria, segundo ele, na Venezuela. Índio da Costa, então, era só um aspirante a picollo balilla, mas o udenismo lacerdista já maturava no arsenal político de Serra, a inocular na classe média o veneno de um apartheid social cevado a poções diárias de medo, mentiras e arrogância. Com Lula, alardeava o serrismo, haveria uma argentinização da economia, seguida de desemprego e inflação explosiva. Ao jornal Gazeta Mercantil , o tucano ardiloso gotejava em 9 de outubro de 2002 o mesmo bordão que sua campanha agora martela Dilma: "Precisamos mostrar quem está mais preparado e mais cercado de forças políticas capazes de garantir a governabilidade". Diante da escalada terrorista, dias depois, o saudoso economista Celso Furtado faria um desabafo incomum para um homem público conhecido pelo estilo reservado e austero. Aspas para as atualíssimas observações do grande economista brasileiro ao site de campanha do PT, em entrevista publicada em 13-10-2002. 'O Serra está aperreado. Como ele vê que todos os apoios vão para o Lula, ele se destempera, diz coisas descabidas, tenta juntar fatos sem nexo. Mistura tudo, Brasil, Venezuela, descontrole cambial e eleições. Um pouco mais de seriedade. O Brasil precisa de seriedade. Existe uma expressão francesa para definir esse comportamento [de Serra]: aux bois, quer dizer, ladrando a torto e a direito. Enfim, o sujeito está no sufoco, fala qualquer coisa. É o fim de festa'.

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Se a elite que vota em Tucano quer mudança por que Serra discursa que vai continuar o projeto de Lula? Quem ele está enganando?

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

CAMPANHA CIDADÃ

Quando o quadro eleitoral vai ganhando um formato que dificilmente parece poder ser alterado significativamente, o único fator que pode alterá-lo vêm, não da esfera das opiniões dos cidadãos, mas de uma lei absurda, aprovada e sancionada, que obriga os eleitores, para poderem votar, portar um outro documento, com foto. Independentemente da intenção de evitar os votos fraudados, a decisão é sumamente discriminatória, afetando diretamente a milhões e milhões de eleitores mais pobres, que não dispõem da informação e/ou de documento com foto ou de possibilidade de se deslocar de novo até suas casas para poder retornar a tempo de votar. A falta de campanha maciça de informação por parte das autoridades responsáveis pelo processo eleitoral só agrava a situação, revelando má fé ou falta de consciência das conseqüências da lei e dos danos que ela pode causar no exercício do direito de voto por milhões de cidadãos brasileiros. Na primeira eleição de Evo Morales, na Bolívia, centenas de milhares de pessoas não puderam votar por uma decisão de que os que não tinham votado na eleição municipal anterior, teriam que se reinscrever. A informação circulou pouco e justamente eleitores pobres, do Evo, não puderam exercer seu direito de voto. Felizmente a maioria obtida pelo Evo foi suficiente para que triunfasse com a maior votação que um presidente havia obtido, mas o MAS deixou de eleger a governadores e a uma bancada parlamentar maior por essa circunstância. No Brasil, até hoje ainda há setores significativos da população – basicamente mais pobres, grande parte deles vivendo no campo – que querem votar no candidato do Lula, mas que só agora, lentamente, vão canalizando esse voto para a candidata do Lula, Dilma. Podemos imaginar a dificuldade para que esses setores possam ser informados da necessidade de portar documento com foto para votar. Muitos sequer têm esse documento, seja por falta de recursos para tirá-lo, seja por falta de consciência da importância e falta de tempo de providenciá-lo.A imprensa, alinhada maciçamente com o candidato da direita e consciente de que os setores mais diretamente afetados são bastiões de voto do governo e da Dilma, nem tocam no tema, em atitude que revela, mais uma vez, como não apenas informam mal e errado a população, como também desinformam pelo silêncio.Não podemos contar com esses meios. Temos que organizar, desde já, uma ampla campanha cidadã de massas para fazer chegar essa informação a todos os eleitores, de que necessitam indispensavelmente levar um documento com foto para poder votar. É responsabilidade da imprensa, de todas as organizações democráticas e populares, de todas as candidaturas desse campo e de toda a militância, organizar formas de difusão ampla dessa informação, com criatividade e com eficácia, para evitar que uma determinação absurda e a irresponsabilidade dos setores que deveriam encarregar-se da informação do eleitorado, falseiem a vontade dos eleitores brasileiros. By Emir Sader

sábado, 14 de agosto de 2010

VELHAS PRATICAS

Aproveitando-se da ausência de Dilma, Serra a converteu em alvo (de novo) num encontro promovido por associações comerciais, em São Paulo. Convidada, Dilma disse que iria ao evento. Mas, na última hora, deu meia-volta. “Normal”, disse Serra. “O PT tem evitado ao máximo debater e se expor”. Sem mencionar o nome de sua rival, Serra insinuou que Dilma se esconde atrás de Lula. O problema, disse ele, é que "o presidente é insubstituível. Quem ganha é quem governa. É preciso se expor mais". Defendeu a simplificação da campanha. Disse ter sugerido um modelo alternativo em 1993: "Cheguei a propor que nós transformássemos o horário eleitoral em uma coisa mais simples. O candidato, diante da câmera, apresentando sua proposta.”; “É chato? É chato. Mas política é uma coisa chata. O que vamos fazer? Com isso, a gente elimina o custo e impede que os candidatos sejam vendidos como iogurtes ou como um novo pão de centeio.”; “Coisas publicitárias ou não publicitárias, como, inclusive, a ocultação do candidato. Hoje no Brasil parece uma importância grande: ocultar o que o candidato é ou deixa de ser".

De fato, as campanhas eleitorais são guiadas mais pelo marketing do que pelas ideias. Elege-se a encenação mais competente, não o melhor candidato. Nessa matéria, a propósito, Serra não é exceção. Longe disso. Incorporou-se à regra geral. Acusa Dilma de usar a popularidade de Lula como escudo. Mas cuida de manter no fundo do armário o aliado FHC. No encontro de São Paulo, Serra voltou a condenar o aparelhamento do Estado, rendido, segundo disse, a “interesses privados”. Nessa matéria, Serra vende-se não como um iogurte, mas como a última bolacha do pacote. Sustenta que, eleito, dará cabo do fisiologismo. "Nós, cada vez mais, nos últimos anos, vimos a recuperação das piores práticas políticas do passado", disse o presidenciável tucano. Está coberto de razão. O diabo é que o “passado” inclui a era tucana de FHC. Uma fase em que vicejaram as mesmas “práticas políticas”. Sob FHC, nunca é demasiado recordar, Jader Barbalho mandou e, sobretudo, desmandou na Sudam. Renan Calheiros foi ministro da Justiça!!!! O líder do governo no Senado chamava-se José Roberto Arruda, à época um tucano em perfeita sintonia com o ninho. Como exemplo de partidarização da máquina pública, Serra citou os Correios. Ali, a desmoralização era tanta que Lula viu-se compelido a trocar o comando. O exemplo é ótimo. Mas Serra tem pouca ou nenhuma autoridade para mencioná-lo. Por quê? Ora, encontra-se alojado na coligação tucana o PTB de Roberto Jefferson, um dos réus no processo do mensalão. Como se recorda, Jefferson levou os lábios ao trombone, para denunciar as conexões valerianas do PT, depois que veio à luz o esquema que o PTB montara nos Correios.
No mais, antes de prometer o fim do clientelismo, Serra precisa informar à platéia como fará para conter os ímpetos do DEM, seu principal aliado.

Em tempo: Dilma ultrapassa Serra também no RS.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

CARA OU COROA - PARTE DOIS

Já tinha prometido não tratar mais do Farol de Alexandria: ele derruba a audiência. Mas, como diria o Barão de Itararé: o problema não é mudar de idéia, mas não ter idéias para mudá-las. O ódio de FHC ao Lula jamais se manifestou de forma tão explícita e exasperada quanto no artigo engordurado que escreveu no Estadão (01/08), na pág. 2 de titulo “Cara ou coroa”? (Já usei esse titulo na edição do Nossa Folha em 24/02/10) Como o Lula é o “cara”, segundo o presidente dos Estados Unidos, isso quer dizer que o Farol chama a Dilma de “coroa”? O artigo é para extravasar o ódio ao Lula e é de verter lágrimas de sangue. O artigo é para dizer que o Lula não presta e o que fez de bom foi ele, o Farol, quem fez. O centro do argumento é que não tem essa de o Serra dizer que é amiguinho do Lula, não. O Serra tem que vestir a camisa do governo FHC, porque o FHC é muito diferente do Lula. Um é a cara, Lula. E o outro, o coroa, o FHC – é isso? Interessante.
Por que o Serra não leva o Farol para o Pavão-Pavãozinho, no Rio, para a Brasília Teimosa, em Recife? Por que ele não leva o FHC ao Jardim Romano alagado? Não leva o FHC para se encontrar com os professores e policiais de São Paulo, que recebem o salário “PSDB” – o Pior Salário Do Brasil? Por que em 2002 o Serra expulsou o FHC do palanque? Por que em 2006 o Alckmin vestiu a camisa do Banco do Brasil e da Petrobrás? Por que ninguém diz que é FHC desde criancinha? Só o PiG (Partido da imprensa Golpista). Mas, o “Príncipe dos Sociólogos”, como gosta de dizer o Mino Carta, o Príncipe dos Sociólogos se trai no final, como um tenor cansado que não atinge mais o Dó maior. Ele diz que o Serra é a Luz. E o Lula e a Dilma são “o controle policialesco” (sic), com a “ingerência de forças partidário-sindicais” (sic).
E o que mais? O Lula e a Dilma são a corrupção deslavada. SIVAM, Pasta Rosa, Privatização do Daniel Dantas, a compra da re-eleição, o Eduardo Azeredo, o Ricardo Sergio, venda do Banespa, Petrobrax – ou seja, isso tudo é petismo na veia. Se o Farol soubesse escrever ou tivesse um grama adicional de coragem diria o que está submerso na cabeça dele: a Dilma é o Koba (que não é o guitarrista do Restart, 2º minha filha), o Stalin terrorista.
É isso o que ele quer dizer e ficou entalado na garganta dele. Que o PTB é corrupto, e vai instalar uma republica petebo-sindicalista e a Dilma (o Jango) é o Koba. É exatamente o que o FHC diria no IPES, aquele “Instituto Millenium”, que, em 1963, reunia intelectuais como o “seu Frias” para tramar a queda do Jango. O interessante é que nas páginas A12 e A13 Dilma Rousseff dá substanciosa entrevista ao Estadão e mostra que o terrorista, o Koba (personagem de Alexandre Kazbegi), dessa história é outro: é o FHC, que, como o Serra, é Golpista e terá “um fim melancólico”.

Em tempo: O Conselho Regional de Economia da Paraíba (Corecon/PB) e outros, solicitou ao Conselho Federal de Economia (Cofecon), o ingresso de uma interpelação judicial pedindo o enquadramento do pré-candidato à presidência, José Serra (PSDB), no Artigo 47 do DL 3.688/41 por uso indevido da qualificação de economista, que tem por base o fato de Serra não possuir bacharelado em economia nem ser registrado em um conselho regional, mas se apresentar publicamente como economista e engenheiro.

By Conversa Afiada - PHA