segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O CARA E A COROA

Não existe um PT pós-Lula.

Ao completar 30 anos de história, mais do que nunca o partido está impregnado pelas marcas indeléveis de seu mentor.

O antigo PT foi patrolado por Lula e seus 80% de popularidade.

A aclamação de Dilma Rousseff e os aplausos a Michel Temer resumem o grau de influência que o presidente exerce sobre a legenda. Seria ingenuidade imaginar que, ao deixar o governo, Lula irá afrouxar o controle sobre o PT ou que não dará pitacos nas decisões tomadas por uma eventual presidente Dilma.

Durante o congresso do partido, Lula tentou de todas as formas demonstrar que Dilma não nasceu do vazio do PT, como afirmou Tarso Genro. Também tratou de colocar um fim nas especulações de que ela foi escolhida para um mandato-tampão, preparando sua volta em 2014.

A constatação de Tarso, contudo, é óbvia.

Exilados por conta de escândalos, José Dirceu e José Genoino estavam lá, sendo saudados com entusiasmo pela militância ou puxando coro de antigos cânticos de campanhas. Nenhum deles, assim como Antonio Palocci, sobreviveriam a uma corrida presidencial.

Lula criou Dilma, induzindo uma metamorfose capaz de transformar uma burocrata pouco afável e neófita em eleições em uma candidata que imobiliza a oposição. Dilma cresce nas pesquisas e, pela forma como foi acolhida sábado pelo partido, torna-se cada dia mais competitiva.Não é a militância petista, entretanto, o fio condutor de sua campanha. Primeiro fruto político do lulismo, a Dilma candidata tem suas chances de vitória assentadas sobre a popularidade do presidente, na aliança com o PMDB e no discurso de manutenção da estabilidade econômica. Quem estava lá, porém, pode comparar as diferenças e o tamanho dos dois personagens principais, mesmo que a marchinha de Carnaval entoada no evento diga “Depois do cara, vem a coroa. O povo quer, é gente boa...”.

Enquanto isso em SP...

...a doentia vaidade de FHC, o rejeitado ex-presidente, não tem cura mesmo. Ou ele é rapidamente internado ou vai acabar enterrando de vez a candidatura do tucano José Serra. Pesquisas indicam que cada vez que ele abre a boca, o governador paulista perde alguns pontos nas pesquisas. Até a Folha de S.Paulo pede, em tom desesperado, que o “príncipe da Sorbonne” se finja de morto para não atrapalhar os planos da oposição neoliberal-conservadora. Já José Serra foge como diabo da cruz de uma disputa sucessória baseada em comparações entre os governos FHC e Lula.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

ALGEMAS

Na coluna do dia 03 FEV, perguntei quando que o presidente supremo do Supremo Gilmar “Dantas” Mendes iria se manifestar sobre a prisão de ativistas do MST com algemas.

Até agora nada.

Afinal o militante do MST não é “loiro, rico de olhos azuis”.

Pois bem vejam este caso do governador de Brasília José Roberto Arruda que pediu licenciamento do cargo por ter sido preso pelo Superior Tribunal de Justiça. Foi decretada a sua prisão e ele não poderia fugir. Mas tinha de ser materializada a prisão, a Polícia Federal tinha de efetuá-la. Ele correu a telefonar para o diretor-geral da Polícia Federal e negociar a forma como iria para a prisão, sem as surpresas de ter de ser apanhado pela polícia e levado até a prisão.

Negociou da seguinte forma: ele se entregaria no prédio da Polícia Federal e se livraria da suprema humilhação: as algemas.Tudo, menos as algemas, pensou Arruda. E assim foi feito.

Este homem estava disposto a tudo que o destino aprouvera. Foi destituído do cargo de governador, estava numa hora investido da função eletiva, despachando no palácio, em poucos segundos a sua vida mudaria para uma tragédia: tinha sido decretada a sua prisão. Ele teria de suportar esta queda vertiginosa da existência de maneira impassível: de governador para detento, tudo se passou de forma rápida, um turbilhão de pesadelos passou por sua cabeça. Mas teria de enfrentar a vida, a prisão, o processo, a execração. Dispôs-se a tudo isso, só não se dispôs a uma coisa: as algemas.

Tudo, menos as algemas.

Foi tão grande, meses atrás, a polêmica sobre o uso de algemas em presos importantes, houve reação de alguns presos, houve justificativas candentes da Polícia Federal para usar as algemas, que chego a uma conclusão: a pena máxima em matéria penal entre nós não são os 30 anos de prisão, o teto de punição para cada cidadão.

A pena máxima, segundo concluí, são as algemas.

As algemas com fotos nos jornais e imagens na televisão são o castigo mais temido pelos presos ilustres.

Daí que o governador Arruda negociou com a Polícia Federal não lhe fossem aplicadas algemas, o próprio presidente Lula se empenhou no sentido de que Arruda não fosse humilhado pelas algemas.

As algemas carregam um tal grau de desonra que muitas vezes se vê na televisão ou em fotografias de jornais os presos sendo conduzidos para a prisão, algemados, mas com um pano qualquer ou um papel sobre as algemas para esconder aquele equipamento policial dos olhos dos outros. E isso às vezes é cometido por presos não ilustres, por bandidos quaisquer, que incrivelmente pensam que só são destituídos de dignidade se forem vistos algemados. Tanto é verdade isso que a definição de algema no dicionário deveria ser somente a de instrumento de ferro com que se prendem os braços pelos pulsos. Mas não, está lá no dicionário o sentido figurado da palavra algema: coação, coerção, agressão, etc. O dicionário considera até como agressão as algemas, daí que os presos suportam todo e qualquer tratamento, querem apenas evitar as algemas.

Daí que o ex-governador Arruda está pronto para enfrentar todo um drama para responder às acusações de que é alvo, mas deve estar pelo menos minimamente consolado porque não foram publicadas fotos suas na prisão ou a caminho dela, mas principalmente porque ele não foi visto algemado.

by PAULO SANTANA

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

POBRES DE SÃO PAULO - II

Prefeitos da região do Alto Tietê (Ferraz de Vasconcelos, Guarulhos, Santa Isabel, Suzano entre outros) procuraram o senador Aloísio Mercadante para fazer denúncia que pode caracterizar um crime. (No Hemisfério Norte, seria.) O Governador da elite de São Paulo, José “Alagão” Serra, segura a água do rio Tietê na barragem da Penha para impedir que a água chegue a Avenida Marginal, onde Serra faz uma obra inútil, mas visível. (Os 90 piscinões que ele deixou de construir para ajudar o Tietê são invisíveis.) Ao segurar a água do Tietê antes de chegar à Marginal, Serra enche o rio e provoca alagamento na região pobre da cidade, onde moram, na maioria, nordestinos – por exemplo, no Jardim Romano, o Katrina do Serra. Resumo da denúncia-crime: para inaugurar a obra e simular eficiência, Serra distribui água com esgoto e doenças aos moradores do Jardim Romano e de toda a Zona Leste.

Como diz o Ciro Gomes: “ele não tem escrúpulos. Se for preciso, passa com um trator por cima da mãe. Serra numa disputa eleitoral é garantia de jogo sujo.”

A denúncia-crime se torna mais grave, porque Serra não investiu para limpar o leito do rio.
O Tietê está sujo de erosão. (O lixo jogado pelos homens é irrelevante para sujar o leito do rio. O que suja o leito do rio é a erosão natural.) Perto de Jacu-Pêssego, por exemplo, o Tietê tem um metro de profundidade! (“Escavadeira cai no rio Tietê e não afunda”). É por isso que, com a água represada, alagam o Jardim Romano, Guarulhos e Itaquaquecetuba. Com a sujeira do leito dos rios, os afluentes não conseguem entrar no Tietê e enchem e alagam, também.

Outra denúncia-crime.


No dia 1º de outubro, o INPE apresentou um relatório sigiloso ao José Serra que previa um verão muito chuvoso. O que recomendaria minimizar o volume de água das represas de São Paulo, porque com a chuva próxima, elas possivelmente encheriam. Zé Alagão não fez nada para impedir o vazamento das represas com o iminente aumento da chuva. Resultado do crime denunciado: 73 mortes, 34 cidades em estado de emergência, 20 mil pessoas desalojadas, e 5 mil desabrigadas irremediavelmente (não poderão voltar às suas casas). Quantas dessas vítimas são nordestinos?

Em que setor da administração pública Serra pode invocar eficiência? (Não é na matemática: Estadão: “alunos das escolas públicas de São Paulo não somam 2 + 2″.) O que faz dele um candidato “consistente”, como diria a Eliane Catanhêde? Como me disse um governador do PMDB: Serra é candidato com um único argumento: o controle do PiG (Partido da Imprensa Golpista). Como diz o Paulo Henrique Amorim: não fosse o PiG, esses tucanos de São Paulo não passavam de Resende.

Do e-leitor Raphael: “E continua a campanha do Zé para culpar a população pelas catástrofes climáticas do estado. Faz-se necessário informar ao excelentíssimo governador tucano que muito embora pense estar na Chuíça, a dura realidade é que SP continuará tendo o clima típico da região sudeste do Brasil: subtropical. “

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

CAMPANHA INOCULADA

Dilma Rousseff já está contaminada pelo vírus do palanque. Nos últimos meses, foram 46 participações em eventos que serviram para impulsionar sua candidatura à Presidência.

O reflexo dessa maratona está explícito nas pesquisas. Na mais recente, divulgada no final de semana pelo Vox Populi, Dilma sobe para 27%, contra 34% de seu adversário, o governador José Serra (PSDB).

O tucano também anabolizou sua agenda. Somente em janeiro, triplicou o volume de viagens, uma forma de se contrapor à forte exposição da ministra. É uma pré-campanha declarada, embora ambos neguem. A própria Dilma, depois de se projetar como sucessora de Lula, correu para divulgar uma nota oficial na qual nega ter se apresentado como candidata.

Na verdade, foi uma tentativa de evitar eventuais punições da Justiça Eleitoral, cuja postura leniente diante da farra de inaugurações dos dois candidatos já motivou uma reprimenda do presidente do Supremo, ministro Gilmar Mendes.

O difícil é frear políticos que dispõem da vitrina de cargos públicos. O presidente Lula, mesmo não sendo candidato e após a crise de hipertensão, se diz pronto para entrar em campo novamente, ou seja, carregar Dilma a tiracolo pelo país. As notícias são alvissareiras para o PT e sua candidata. O único entrave ainda é a aliança com o PMDB.Além de minar Michel Temer como candidato a vice, o PT terá de lidar com uma ala dissidente, cada vez mais assanhada e que, neste final de semana, nas comemorações dos 80 anos de Pedro Simon, voltou a lançar o nome do governador Roberto Requião à sucessão.

Pura bravata, mas isso pode favorecer Temer, o único que ainda consegue unir as diferentes facções do partido.

* * *

A prisão de nove lideranças do MST, no interior de São Paulo, algumas das quais filiadas ao PT, foi o ponto de partida de uma estratégia eleitoral virtualmente criminosa e extremamente profissional, embora carente de originalidade.

E ai vem a pergunta que não quer calar:

Quando Gilmar “Dantas” Mendes vai se pronunciar para criticar o uso de algemas ?