sexta-feira, 25 de julho de 2008

Dantas e a estrela

Por mais que as denúncias contra Daniel Dantas digam respeito a crimes contra o sistema financeiro, o que ainda permanece nebuloso são as raízes das relações do banqueiro com políticos de diferentes matizes. Dantas transitava com desenvoltura no governo tucano, uma porta aberta graças a figuras de proa do antigo PFL, hoje DEM. Mas é junto ao PT, no seio do governo Lula, que a presença de Dantas é ainda mais obscura. O maior temor do Planalto é Luiz Eduardo Greenhalgh, que até pouco tempo fazia parte do círculo de confiança de Lula e agora ressurge no cenário como lobista de Dantas. Que limites de influência no governo Greenhalgh ultrapassou para advogar pela causa do banqueiro? A extensão dos tentáculos de Dantas é a pergunta que incomoda muita gente com estrela no peito. Tanto que o PT deve tratar do assunto na primeira reunião da executiva em agosto.

Chama a atenção de todos que assistimos às movimentações do caso Dantas o silêncio sepulcral do banqueiro em suas idas e vindas tanto à prisão quanto nas oportunidades em que foi chamado a depor. Nunca pronunciou sequer uma palavra à imprensa e nos depoimentos reservou-se também o direito do silêncio, não respondendo a nenhuma das perguntas que lhe foram feitas.Um homem que aparentemente tem tanto a dizer, no entanto não diz absolutamente nada.Nada sai dele, senão um silêncio tumular, como que a dizer a todos: "Não se metam nisso, vocês não sabem nada do que está por trás de tudo".
Mas se calcula que haja muito por trás de tudo.Um indício disso é que o delegado Protógenes Queiroz saiu do caso, pretensamente para fazer um curso. O juiz Fausto Martin de Sanctis, que mandou prender Dantas duas vezes, entrou em férias. O superintendente da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, também entrou em férias.E o ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal, também entrou em férias.Que caso é este em que seus principais personagens se afastam dele como o diabo da cruz?O caso pode até prosseguir, mas está órfão de seus principais personagens.

Este Daniel Dantas tornou-se um mito do mercado financeiro. Fez mestrado e doutorado na Fundação Getúlio Vargas, depois de formado em Engenharia Civil na Bahia. Foi pupilo do economista e ex-ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen, era amigo de um prêmio Nobel da Economia, e foi aluno de outros três vencedores do Nobel de Economia, tudo no Exterior.Mas achava tempo para vir administrar como sócio a corretora Triplic no Brasil. Logo a seguir, logrou ser vice-presidente de investimentos do Bradesco, de onde foi liderar o Banco Icatu. No Icatu, foi revelado o seu gênio financeiro, comprou ações de empresas de energia e telefonia quando elas valiam quase nada. As ações dispararam. O mesmo ele fez com ações da Petrobras quando elas eram pouco cotadas.Tendo enriquecido o Icatu, separou-se dele e fundou o Banco Opportunity. Atirou-se de corpo e alma nas privatizações e fez consórcios entre telefonias e fundos de pensão. Amealhou recursos de bancos estrangeiros e nesses consórcios estabeleceu teias entre holdings e sub-holdings que afinal vieram a ter a ele somente como gestor decisivo.

Evidentemente que esse homem que atravessou até agora quase quatro governos passou a ter uma importância perto do sobrenatural no meio financeiro brasileiro. A questão é a seguinte: um homem com tal poder, tal talento e tal envolvimento com os círculos superiores das finanças e governamentais poderia ter sido preso? Tudo indica que o delegado Protógenes e o juiz De Sanctis se aproveitaram de um cochilo. E quando acabou o cochilo, como os outros, entraram em férias.

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