domingo, 2 de agosto de 2009

EM NOME DE DEUS

Olhem o diálogo entre José Sarney e seu filho, transcrito em gravação por todos os jornais do país:

FERNANDO SARNEY (O FILHO) - Bênção, pai.

JOSÉ SARNEY (O PAI) - Deus lhe abençoe. Você não tinha me falado no negócio da Bia (neta de José Sarney e filha de Fernando Sarney, os integrantes deste diálogo).

O diálogo prosseguiu com Fernando pedindo a intervenção do pai, José Sarney, para nomear um namorado da neta de José Sarney e filha de Fernando. Resultado desse diálogo: o namorado da neta foi nomeado funcionário do Senado, onde hoje Sarney é presidente e sempre foi e para sempre será senador, em ato secreto assinado por Agaciel Maia, ex-diretor-geral do Senado, completamente enrolado em centenas de irregularidades cometidas em seu cargo.

Notem que o nome de Deus é usado por Sarney no telefonema com o filho. O nepotismo no Brasil, como se vê (e se ouve), é transcorrido em nome de Deus. Ou seja, os nepóticos creem não só que não é pecado nepotiar como também citar Deus em seus nepotismos. Em suma, acreditam que praticar nepotismo usando o nome de Deus não quer dizer uso em vão do nome divino.

Sarney e sua família mamam nas tetas do erário público desde antes de Pedro Álvares Cabral aportar na Bahia. Sarney e seu filho Fernando se julgam ser Rômulo e Remo e se arvoram em mamar nas tetas da Loba do Capitólio, como se ela fosse o Tesouro Nacional. O ditado filosófico antigo que apregoa que “o homem é lobo do homem” foi corrigido milênios depois no Brasil: o nepotismo é lobo do contribuinte.

O gaúcho diz que o quero-quero canta num lugar e põe o ovo no outro. Pois incrivelmente isto acontece com Sarney, que com o quero-quero tem o seguinte parentesco: Sarney é o protótipo do político brasileiro que encarna o QUEROMEU, personagem de Luis Fernando Verissimo. Sarney não para de querer. Quanto mais quer, mais leva dos cofres públicos. E tanto Sarney põe o ovo num lugar e canta no outro, que nasceu no Maranhão, viveu pouco no Maranhão, mas é para lá que encaminha o grosso de seu patrimônio, mas é senador pelo Amapá. O Sarney senador pelo Amapá, sendo maranhense, é um escândalo tão tonitruante quanto à hipótese louca do Pedro Simon ser eleito senador nas próximas eleições pelo Tocantins.

O nepotismo e a corrupção no Brasil mudam a geografia. Ou melhor, o nepotismo e a corrupção no Brasil não têm no mapa.

Por que causa tanta revolta justa no Brasil o nepotismo? Porque, se todos os políticos empregarem seus parentes no serviço público, fica desigual: não há lugar para os outros brasileiros na sinecura. Incrivelmente o nepotismo não é crime, não passa de uma irregularidade. Quando, em realidade, ele é um dos maiores crimes: destinar o serviço público para parentes e apaniguados é atacar frontalmente o sublime instituto do concurso público, a única forma justa de escolha de ocupantes dos cargos públicos. E não vale dizer que o nepotismo no Brasil se caracteriza nos cargos de confiança. Porque, na verdade, a maior parte dos funcionários públicos brasileiros entraram no serviço público pela via do cargo de confiança. Depois, espertamente, os políticos efetivam os ocupantes dos cargos de confiança e eles se tornam estáveis.

Isto é nojento.

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