segunda-feira, 3 de agosto de 2009

DE NOVO.

Teimo em renovar esperanças de que tudo será diferente. Chego a aceitar apostas e creio que, desta vez, acontecerá a depuração. O fim do recesso parlamentar em Brasília e a retomada das atividades de deputados federais e senadores serão marcos divisores entre um passado sem ética e um futuro de dignidade. Os que desacreditam apenas sorriem e alguns poucos verbalizam suas chacotas, dizendo-me que vai ser tudo igual outra vez. Fisiologismo, nepotismo, interesses escusos, maracutaias, farras de desvios e outros sinônimos da gandaia geral serão as palavras de ordem novamente.

Ainda prefiro acreditar na Constituição e nas leis. Ainda prefiro sentir-me garantido como cidadão, porque é firme a minha crença nas instituições que todos nós criamos para ordenar a vida em sociedade. Sigo acreditando, ainda que alguns sobressaltos nos aflijam, como o tropeço de um desembargador brasiliense, que atuou como um censor para impedir que chegasse aos meios de comunicação e ao público o que fora apurado contra o senhor Fernando Sarney, cujo nome não é mera coincidência. José, o chefe do clã, talvez renuncie à presidência do Senado, pela salvação de seu mandato. Cai fora e seus pares dão o caso que o envolve por encerrado. Volta mais tarde, menos exposto. A mesma fácil solução dada ao escândalo de um presidente anterior, Renan Calheiros. Tudo outra vez, como insistem em me convencer. E eu na teimosia de querer novos tempos, novas medidas, novíssima esperança. De nada valerá a tentativa de proteger a corrupção, tenho certeza. A reação ao autoritarismo daquele juiz é prova de que não me engano. Nada poderia ser tão ruim quanto a constatação de que a censura voltou. E dessa vez, de toga. Censura portando fuzis e calçando borzeguins eu conheci de perto. Togada, prefiro nem acreditar. Nada será pior para a democracia que um juiz praticando atos de um ditador.

Não que a Câmara navegue em mares menos revoltos, mas, no momento, é o Senado o cenário das piores manobras das aves de rapina. Os deputados, se quiserem, têm muito a fazer de bom e com urgência. Reformas política e tributária estão lá, esperando decisão. Os aposentados aguardam a resposta ao anseio de verem sepultado o fator previdenciário, mecanismo de empobrecimento dos rendimentos daqueles que já trabalharam e contribuíram uma vida inteira. Em compensação, tem coisa ruim projetada. Fala-se na criação de alguma figura parecida com a antiga CPMF. Seus articuladores prometem, sob juramento, que a nova cobrança, além de mínima, será mesmo para o custeio da saúde de nossa gente. Nessa nem eu acredito, com toda a minha boa vontade em ainda esperar que meios de controle e de fiscalização funcionem de verdade.

Destravamento de pautas como as do Pré-sal, CPI da Petrobras, punição dos corruptos, devolução de qualquer dinheiro desviado, respeito ao concurso de provas e títulos para ingresso no serviço público, agilização de todas as investigações e, por fim, uma faxina geral é o que se quer ver acontecer nas duas casas de nosso Congresso. Se a população quiser de verdade, conseguirá chegar perto desses sonhos. Por menos cuidadosos que sejam, os políticos são sensíveis a qualquer pressão popular. É o trabalho deles.

Se aquele juiz de Brasília não atrapalhar, a missão de limpeza um dia se completa. Tem muito deputado disposto a só fazer o bem, podem crer. Precisamos acreditar mesmo, que só assim daremos respaldo a quem esteja empunhando um balde, vassoura e panos para deixar tudo limpo e cheiroso na política desse país, como nunca antes terá acontecido em sua história. Vai ter que acontecer assim, ou estaremos fritos. Eu acredito, ainda que muitos me repitam que é hora de desistir porque vai ser tudo como sempre, outra vez.

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