segunda-feira, 5 de outubro de 2009

LULA E A OLIMPÍADA

Lula empenhou seu cacife político na campanha do Rio 2016. Se o Rio perdesse, a imprensa golpista e a elite branca e separatistade São Paulo, cairiam em cima de Lula, como se fosse um coitadinho, um operário metalúrgico que tentou ir além dos sapatos. Lula, logo após a vitória, ressaltou que o Brasil devia isso ao Rio. “Ao Rio, que já foi capital da República, que foi politicamente esvaziado, e passou a freqüentar as paginas podres da imprensa, o Brasil devia ao Rio – disse Lula. (Nessa hora, Lula olho no olho do repórter da Globo).
Ninguém mais do que o Presidente Lula trabalhou para re-fazer esse mapa geopolítico. A distorção começou com Juscelino, que tirou a capital do Rio e abriu o ciclo da inflação e isolar a capital do povo. Levou a indústria só para São Paulo – e botou o resto do Brasil para trabalhar para São Paulo. Depois, o regime militar esvaziou o Rio, porque o Rio era brizolista. E a Globo, por causa do Brizola, estigmatizou o Rio e o transformou numa Medelín. Acabou a minoridade política do Rio. Como disse o Presidente Lula, em lágrimas, esse é o atestado de cidadania do Brasil. É a prova de que o mundo reconhece que o Brasil chegou lá. E que o Rio é o Rio. Capital do Brasil !
Mas Lula poderia ter agido, como muitos de seus pares na política agiriam, com rancor e desprezo pelo Rio de Janeiro, seus políticos, sua mídia, todos alegremente colocados como caixa de ressonância dos piores e mais mesquinhos interesses oriundos de um claro ódio de classe, embora mal disfarçados de oposição política. Lula poderia ter destilado ódio e ter feito corpo mole contra o Rio de Janeiro, em reação, demasiada humana, à vaia que recebeu – estranha vaia, puxada por uma tropa de canalhas, refletida em efeito manada – na abertura dos jogos panamericanos, em 2007, talvez o maior e mais bem definido ato de incivilidade de uma cidade perdida em décadas de decadência. Vaiou-se Lula, aplaudiu-se César Maia, o que basta como termo de entendimento sobre os rumos da política que se faz e se admira na antiga capital da República. Fosse um homem público qualquer, Lula faria o que mais desejavam seus adversários: deixaria o Rio à própria sorte, esmagado por uma classe política duvidosa e tristemente medíocre, presa a um passado de cidade maravilhosa que só existe, nos dias de hoje, nas novelas da TV Globo ambientadas nas ruas do Leblon.
Lula poderia ter agido burocraticamente a favor do Rio, cumprido um papel formal de chefe de Estado, falado a favor da candidatura do Rio apenas porque não lhe caberia falar mal. Deixado a cidade ao gosto de seus notórios representantes da Zona Sul, esses seres apavorados que avançam sinais vermelhos para fugir da rotina de assaltos e sobressaltos sociais para, na segurança das grades de prédios e condomínios, maldizer a existência do Bolsa Família e MST, antros simbólicos de pretos e pobres culpados, em primeira e última análise, do estado de coisas que tanto os aflige. Lula poderia ter feito do rancor um ato político, e não seria novidade, para dar uma lição a uma cidade que o expôs e ao país a um vexame internacional pensado e executado com extrema crueldade por seus piores e mais despreparados opositores. Mas Lula não fez nada disso. No discurso anterior à escolha do Comitê Olímpico Internacional, já visivelmente emocionado, Lula fez o que se esperava de um estadista: fez do Rio o Brasil todo, o porto belo e seguro de todos os brasileiros, a alma da nacionalidade. Foi um ato de generosidade política inesquecível e uma lição de patriotismo real com o qual, finalmente, podemos nos perfilar sem a mácula do adesismo partidário ou do fervor imbecil das patriotadas. Lula, esse mesmo Lula que setores da imprensa brasileira insistem em classificar de boneco do poder chavista em Honduras, outra vez passou por cima da guerrilha editorial e da inveja pura e simples de seus adversários. Falou, como em seus melhores momentos, direto aos corações, sem concessões de linguagem e estilo, franco e direto, como líder não só da nação, mas do continente, que hoje o saúda e, certamente, o aplaude de pé. Em 2016, o cidadão Luiz Inácio da Silva terá 71 anos. Que os cariocas desse futuro tão próximo consigam ser generosos o bastante para também aplaudi-lo na abertura das Olimpíadas do Rio, da qual, só posso imaginar, ele será convidado especial.

Em tempo: FHC agora cortará os pulsos de tanta inveja.

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