segunda-feira, 28 de junho de 2010

COPA DO MUNDO

Se a eleição fosse a Copa do Mundo, o placar desta semana mostraria que José Serra tomou um banho de jabulani e viu seu time emplumado ser goleado pela equipe da adversária Dilma Rousseff. O placar do último Ibope (Dilma 40, Serra 35) é a primeira virada do PT no jogo bruto da sucessão. Mais pelos erros clamorosos do esquadrão tucano. O problema maior de Serra, que ainda não tem equipe escalada e nem esquema de jogo, não é a adversária que já se fardou para a partida. O problemão de Serra nem vai entrar em campo, mas pode decidir o jogo ainda no primeiro tempo: a encrenca é Lula, o dono da bola, do time, do discurso e da candidata do PT, que surfa na aprovação pessoal de 85% da torcida brasileira. O candidato do PSDB ainda tem que agüentar a estridente vuvuzela de uma economia em expansão que incha o pulmão do torcedor e forra o bolso do eleitor. A planilha do Ibope mostra que, a 100 dias da eleição de outubro, mais da metade dos eleitores (55%) não conhecem, nem ouviram falar ou poucos sabem que Dilma é candidata de Lula. Sinal de que, nos 45 dias finais de campanha no rádio e na TV, a situação de Serra pode se agravar dramaticamente. O tucano continua impondo seu jogo no sul do país, perde de goleada no Nordeste e começa a ceder o empate na zona do agrião, o Sudeste, onde estão as torcidas que costumam decidir o campeonato. Em todas as regiões do país, a aprovação popular do inventor de Dilma varia de 80% a 90%, batendo em 84% em RJ-SP-MG, onde se concentram 58 milhões dos 134 milhões de eleitores. Serra, até agora preferido pelos eleitores mais ricos e de melhor instrução no Sul Maravilha, deve enfrentar dificuldades maiores no seu reduto: Lula tem 88% de aprovação no eleitorado que ganha até dois salários mínimos e 75% entre os que ganham mais de 10 salários, justamente o ninho tucano. A crônica indecisão tucana agravou o drama de Serra. Até escolher o senador Álvaro Dias como seu vice, Serra hesitou entre oito nomes. Fritou o favorito Aécio Neves. Cortejou Francisco Dornelles. Depois, o tucano negaceou entre Arruda, o governador preso por corrupção em Brasília, os deputados baianos José Carlos Aleluia e Benito Gama e uma inexpressiva vereadora tucana do Rio de Janeiro. Patrícia Amorim seria uma jogada de craque, sonhavam os tucanos, porque é a atual presidente do Flamengo, o clube de maior torcida do país. Para dar certo, o gol de placa do palmeirense Serra teria que ser combinado também com os torcedores de Vasco, Fluminense, Corinthians, São Paulo, Atlético, Bahia, Barueri, Naviraense...
Álvaro Dias ganha a vice menos por suas virtudes como político e mais por ser irmão do também senador Osmar Dias, que ameaçava montar um palanque no Paraná para Dilma.
O lance perna-de-pau de Serra aconteceu no dia 23, quando ele fechou o apoio de nove partidos varzeanos de Brasília reunidos em torno de Joaquim Roriz. Serra jogou no ralo qualquer preocupação ética ao receber o apoio do homem que resume como poucos, o clima pantanoso da política brasileira. Roriz é apontado pelo Ministério Público como a matriz do mensalão do DEM que levou Arruda e seus comparsas à cadeia. No desespero dos números adversos, Serra tem olhos apenas para os 42% da pesquisa que dá a liderança em Brasília a Roriz, sem antever o desgaste que esta aliança moralmente rasteira sinaliza pelo país, onde o PSDB já teve que engolir o apoio de gente como Quércia e Maluf. Neste charco eleitoreiro, Serra nivelou-se pelo oportunismo. A flacidez moral de Serra, neste jogo de alianças a qualquer preço e a qualquer custo, mostra uma ambição que vai além de seu lema de campanha, o “Brasil que pode mais”. Agora com Roriz no bolso, Serra prova que pode ainda mais. Serra pode tudo, Serra pode qualquer coisa.


By Luiz Claudio Cunha

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