terça-feira, 17 de junho de 2008

NOSSA FOLHA - 18 JUN 2008

Banco 24 Horas.

As notícias mais impactantes do cotidiano brasileiro continuam vindo de dentro das prisões.

E todas elas ligadas ao mais estreito de interesses entre presos e carcereiros.

Na Bahia, foram descobertos na cela de um preso R$ 280 mil em notas de R$ 50.

Os legalistas dirão que não é proibido a qualquer pessoa que visite um presídio que porte qualquer importância em dinheiro.
Um presídio não é país estrangeiro. Lembro a proibição fiscal de que nenhum brasileiro pode transportar em viagem internacional mais de R$ 10.000, sem declarar à Receita Federal. Para visitar um presídio ou ingressar nele como preso, não há limite.

No entanto, estranha que um preso mantenha em seu poder na sua cela a quantia de R$ 280 mil.

Como os presos neste Brasil não têm qualquer atividade produtiva, fruto de que seria este dinheiro?

Evidentemente que fruto de crime.

E mais: crime cometido no presídio com resultado da ação fora dos limites da casa prisional.

Assaltos, seqüestros, tráfico de drogas, ocorridos nas ruas e planejado e comandado pelo preso que portava a fortuna em sua cela.

Disse a notícia que o prisioneiro usava a quantia escondida em sua cela para emprestar dinheiro a juros dentro da prisão, talvez também fora dela. Ou seja, era mantida dentro do presídio uma entidade financeira.

Tenho a curiosidade para saber se a cela milionária funcionava com limite de horário, como acontece com os bancos - presumo que se tratava de uma agência de Banco 24 horas.

E também me intriga que a quantia lá escondida possa ser fruto de depósitos dos outros presos, que descontavam cheques periodicamente junto ao guardião da bolada.

Esse fato revela que são tão grandes a autonomia e exclusividade de gestão dos próprios presos no interior dos presídios brasileiros que eles começam a agir como sociedade organizada, criando serviços lá dentro que só seriam admitidos fora dos limites da prisão.

O comércio de rádios, televisores, celulares, alimentos, é feito por eles mesmos, ainda mais depois que o cigarro deixou de ser a moeda de troca dentro dos presídios para dar lugar à própria moeda nacional.

Sem falar no comércio do sexo. A televisão transmitiu um diálogo entre um preso no celular e um agente de tráfico de pedofilia, que oferecia uma menina de menos de 10 anos para ser trazida de fora do presídio até a cela do pedófilo. E fecharam o negócio.

Monstruoso. Revoltante.

Como é que passaram estes R$ 280 mil e esta pobre menina pelas portas desses dois presídios?

Não é difícil imaginar que foi gasto muito dinheiro para estas manobras.

E é evidente que a superioridade financeira de alguns presos sobre os agentes públicos que deveriam controlá-los é tanta que se estabelece um ambiente propício ao suborno dos agentes. O que em última análise mostra que quem manda na maioria das prisões são os presos - e sua força deriva de seu poder financeiro.

É muito difícil da sociedade brasileira e de seus governos entenderem que não há nenhuma chance de se diminuir a criminalidade das ruas enquanto não se criarem condições para presídios seguros, habitáveis e bem policiados que impeçam o avanço da criminalidade que ocorre dentro deles.

Sobre o dinheirão encontrado na cela, afinal um presídio não é nos dias de hoje o lugar mais seguro para se guardar dinheiro?

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