segunda-feira, 31 de agosto de 2009

DRIBLE DA VACA

Sabem o que é o "drible da vaca", não sabem? É quando o jogador passa a bola por um lado do seu adversário, segue pelo outro lado e consegue recuperá-la. Pois é. Lula deu o "drible da vaca" nos governadores José Serra, de São Paulo, Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro e Paulo Hartung, do Espírito Santo. E pior! O presidenciável do PSDB, o governador José Serra converteu-se em expectador de um espancamento do seu tucanato. A convite de Lula, Serra sentou-se na platéia da megacerimônia de lançamento do marco legal para a exploração do petróleo do pré-sal. Ao discursar, Lula desancou o governo do antecessor FHC, presidente de honra do PSDB e amigo de Serra. Lula disse que, em 1997, sob FHC, "altas personalidades chegaram a dizer que a Petrobras era um dinossauro. Não um dinossauro qualquer, mas o último dinossauro a ser desmantelado". Lembrou que o tucanato investira contra a estatal. Chegara mesmo a cogitar a mudança de nome da empresa, que passaria a se chamar Petrobax. Ironizou: "Sabe lá o que esse xis queria dizer nos planos de alguns exterminadores do futuro". Agora, disse Lula, esses "pensamentos subalternos" foram superados. "O país deixa para trás o complexo de inferioridade”, jactou-se Lula. “Como é bom andar de cabeça erguida e olhar com confiança para nosso futuro!" "Benditos amigos e companheiros do dinossauro, que sobreviveu à extinção, deu a volta por cima e descobriu no pré-sal o passaporte para o nosso futuro". Nesse ponto do discurso, Lula foi efusivamente aplaudido. Serra, cenho crispado, eximiu-se de bater palmas. Ao resumir os “tempos subalternos” de FHC, Lula disse que “o país tinha deixado de acreditar em si mesmo”. Decidido a fustigar o tucanato, adepto do “choque de gestão” e simpático às privatizações”, Lula disse que “o papel do Estado voltou a ser valorizado”.
Outra alfinetada em FHC: “Não só não quebramos como fomos um dos últimos a entrar na crise e um dos primeiros a sair dela”. Mais outra: “Antes, éramos alvos de chacotas. Hoje, a voz do Brasil é ouvida lá fora com muito respeito”. De quebra, Serra, autoconvertido em platéia, foi compelido a assistir ao retorno da potencial adversária Dilma Rousseff à boca do palco. Um palco armado também para que Dilma, depois de um sumiço de dez dias, ressurgisse triunfante, cavalgando o pré-sal. Serra não pretendia participar da cerimônia. Deixou-se convencer por Lula, num jantar ocorrido na noite de domingo (30). O governador de São Paulo fora ao Alvorada junto com os colegas do Rio, Sérgio Cabral, e do Espírito Santo, Paulo Hartung. Os três foram a Lula para evitar que o governo bulisse na repartição dos royalties pago aos Estados produtores de petróleo. Foram bem sucedidos. Ao término do jantar, Lula encareceu aos governadores que comparecessem à pajelança do pré-sal. Eles aquiesceram. A julgar pelas caras e bocas que fez durante a discurseira, Serra deve ter sido tomado pelo arrependimento. Viu-se no centro de uma arapuca. À saída da cerimônia, o presidenciável tucano disse meia dúzia de palavras. Condenou a pressa do governo. Nenhuma palavra em defesa de FHC.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

CÃOZINHO

Discursava na tribuna, sexta-feira passada, o senador Pedro Simon (PMDB-RS), lembrando que a grande obra de José Sarney como presidente do Senado tinha sido anunciada esses dias: será a reforma material do recinto do plenário, onde se realizam as sessões daquela casa.

E eu concluo agora, por esse fato, que, diante de tanta sujeira em “sua” casa, José Sarney vai trocar o sofá da sala.

No discurso, Pedro Simon também recordou que algum tempo atrás o senador Gérson Camata (PMDB-ES) sugeriu em plenário que fosse acrescentado ao regimento interno do Senado que os senadores poderiam discursar e apartear dispensados do paletó e da gravata.

Simon foi contra.

E teve razão: não podiam ter extinto o uso de gravata e paletó. Se o fizessem, hoje, nos escombros morais que restam no Senado, só sobrariam intactos as gravatas e os paletós.

O Jornal Nacional noticiou esses dias um fato estarrecedor: carros roubados apreendidos no dia ou no dia seguinte, quando em perfeito estado de conservação, eram depenados pelos PMs que deveriam recolher os veículos para as delegacias.

Pegavam os carros nos locais deixados pelos ladrões e furtavam todos os seus acessórios ou suas peças mais valiosas.

Ou seja, as vítimas dos carros roubados escapavam patrimonialmente ilesas dos ladrões, mas eram furtadas pelos policiais militares.

Este acontecimento é sintomático dos dias que correm no Brasil: quem vê os senadores se locupletando sente-se autorizado também a praticar fuzarcas morais.

E me ofereceram uma fotografia de um cão que fica o dia inteiro à porta da Câmara de Vereadores de uma certa cidade no RS.

Fiquei sabendo que, incrivelmente, aos sábados e domingos, o cãozinho não fica à porta da Câmara, não sei por que instinto ele sabe que a Câmara não funciona.

Mas, de segunda a sexta-feira, o cachorrinho não sai da frente do prédio da Câmara, de dia e de noite, do início ao fim do expediente.

Se fosse no Senado, já teriam arranjado para colocá-lo na folha de pagamento. E, pelo horário que cumpre, com direito a hora extra.


domingo, 23 de agosto de 2009

FHC x LULA

Recebi email de um amigo que é Procurador da Fazenda Nacional. Repito as palavras dele, com as quais concordo: “Com o objetivo de comparar algumas coisas interessantes (e não apenas desgraças) segue a mensagem abaixo. Não conferi as fontes, mas a maioria dos números bate com o que é notoriamente conhecido…”

A comparação entre 4 anos do governo Lula e 8 anos do governo FHC:

Número de policiais federais:
Lula: 11 mil
FHC: 5 mil

Operações da PF contra a corrupção, crime organizado, lavagem de dinheiro etc.:
Lula- 183
FHC- 20

Prisões efetuadas:
Lula: 2.971
FHC: 54

Criação de empregos:
Lula: 6 milhões (4 milhões com carteira assinada)
FHC: 700 mil

Média anual de empregos gerados :
Lula: 1,14 milhão
FHC: 87,5 mil

Média mensal de empregos gerados:
Lula: 95 mil
FHC: 87 mil

Taxa de desemprego nas regiões metropolitanas:
Lula: 8,3%
FHC: 11,7%

Desemprego em SP:
Lula: 16,9%
FHC: 19,0%

Exportações (em dólares):
Lula: 118,3 bilhões
FHC: 60,4 bilhões

Balança comercial (em dólares):
Lula: 103,3 bilhões
FHC: – 8,4 bilhões

Transações correntes (em dólares):
Lula: 30,1 bilhões
FHC: – 186,2 bilhões

A comparação entre 4 anos do governo Lula e 8 anos do governo FHC:

Risco-país:
Lula: 204
FHC: 2.400
* No governo Lula, o país atingiu o patamar mais baixo da história.

Inflação:
Lula: 2,8%
FHC: 12,53%

Dívida com o FMI (em dólares):
Lula: dívida paga
FHC: 14,7 bilhões

Dívida com o Clube de Paris (em dólares):
Lula: dívida paga
FHC: 5 bilhões

Dívida pública:
Lula: 34,2%
FHC: 35,3%

Dívida externa:
Lula: 2,41%
FHC:12,45%

Investimento em desenvolvimento (em reais):
Lula: 47,1 bilhões
FHC: 38,2 bilhões

Empréstimo para habitação (em reais):
Lula: 4,5 bilhões
FHC: 1,7 bilhões

PIB:
Lula: 2,6% ao ano (até 2005)
FHC: 2,3% ao ano

Crescimento industrial:
Lula: 3,77%
* O lucro líquido das grandes empresas com ações em Bolsa quase triplicou nos três anos e meio de governo de Luiz Inácio Lula da Silva em relação ao período da segunda gestão de Fernando Henrique Cardoso, de 1999 a 2002. Folha de S. Paulo (20/08/2006)
FHC: 1,94%

Produção de bens duráveis:
Lula: 11,8%
FHC: 2,4%

Lembrando: comparação entre 4 anos do governo Lula e 8 anos do governo FHC:

Aumento na produção de veículos:
Lula: 2,4%
FHC: 1,8%

Crédito para a agricultura familiar:
Lula: 6,1%
FHC: 2,4%

Crescimento real do salário mínimo:
Lula: 25,3%
FHC: 20,6%
* Ganho real de 25,7% em três anos

Valor do salário mínimo em dólares:
Lula: 152
FHC: 55

Poder de compra do salário mínimo em relação à cesta básica:
Lula: 2,2 cestas básicas
FHC: 1,3 cesta básica

Aumento do custo da cesta básica:
Lula: 15,6%
FHC: 81,6%

Índice de Desigualdade social:
Lula: 0,559
FHC: 0,573

Participação dos mais pobres na renda:
Lula: 15,2%
FHC: 14,4%

Número de pobres:
Lula: 33,57%
FHC: 34,34%

Número de miseráveis:
Lula: 25,08%
FHC: 26,23%

Transferência de renda (em reais):
Lula: 7,1 bilhões
FHC: 2,3 bilhões

Média por família:
Lula: 70 reais
FHC: 25 reais

Atendidos pelo programa Saúde da Família:
Lula: 43,4%
FHC: 30,4%

Atendidos pelo programa Brasil Sorridente (atendimento odontológico):
Lula: 33,7%
FHC: 17,5%
* 15 milhões de brasileiros foram pela primeira vez ao dentista.

Mortalidade infantil indígena (por 1000 habitantes):
Lula: 21,6
FHC: 55,7

Número de turistas que vêm ao Brasil:
Lula: 4,6 milhões
FHC: 3,8 milhões

Pró-jovem – estudo subsidiado
Lula: 93 mil (18 a 24 anos)
FHC: …
* 100 reais por mês de subsídio a cada estudante

Bolsa Família
Lula: 11,1 milhões de famílias
FHC: …
* Educação e subsídio alimentar

Incremento no acesso a água no semi-árido nordestino
Lula: 762 mil pessoas e 152 mil cisternas
FHC: zero

Distribuição de leite no semi-árido (sistema pequeno produtor)
Lula: 3,3 milhões de brasileiros
FHC: zero

Áreas ambientais preservadas
Lula: incremento de 19,6 milhões de hectares (2003 a 2006)
Do ano de 1500 até 2002: 40 milhões de hectares

Apoio à agricultura familiar
Lula: 7,5 bilhões (safra 2005/2006)
FHC: 2,5 bilhões (último ano de governo)
* O governo Lula investirá 10 bilhões na safra 2006/2007

Compra de terras para Reforma Agrária
Lula: 2,7 bilhões (2003 a 2005)
FHC: 1,1 bilhão (1999 a 2002)

Investimento do BNDES em micro e pequenas empresas:
Lula: 14,99 bilhões
FHC: 8,3 bilhões

Investimentos em alimentação escolar:
Lula: 1 bilhão
FHC: 848 milhões

Investimento anual em saúde básica:
Lula: 1,5 bilhão
FHC: 155 milhões

Equipes do Programa Saúde da Família:
Lula: 21.609
FHC: 16.698

População atendida pelo Prog. Saúde da Família:
Lula: 70 milhões
FHC: 55 milhões

Porcentagem da população atendida pelo Programa Saúde da Família:
Lula: 39,7%
FHC: 31,9%

Pacientes com HIV positivo atendidos pela rede pública de saúde:
Lula: 151 mil
FHC: 119 mil

Juros:
Lula: 16%
FHC: 25%

BOVESPA
Lula: 35,2 mil pontos
FHC: 11,2 mil pontos

Dívida externa:
Lula: 165 bilhões
FHC: 210 bilhões

Desemprego no país:
Lula: 9,6%
FHC: 12,2%

Dívida/PIB:
Lula: 51%
FHC: 57,5%

Eletrificação Rural
Lula: 3.000.000 de pessoas
FHC: 2.700 pessoas

Livros gratuitos para o Ensino Médio
Lula: 7 milhões
FHC: zero

Geração de Energia Elétrica
Lula: 1.567 empreendimentos em operação, gerando 95.744.495 kW de potência. Está prevista para os próximos anos uma adição de 26.967.987 kW na capacidade de geração do País, proveniente dos 65 empreendimentos atualmente em construção e mais 516 outorgadas.
FHC: APAGÃO

* Entre os anos de 2000 a 2005, as ações da Polícia Federal no combate ao crime cresceram 815%. Durante o governo do presidente Lula, a Polícia
Federal realizou 183 operações e 2.961 prisões? Uma média de 987 presos por ano. Já nos dois últimos anos do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, foram realizadas apenas 20 operações, com a prisão de 54 pessoas, ou seja, uma média de 27 capturas por ano.

Fontes: IBGE, IBGE/Pnad (Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar – desde 1994); ANEEL; Bovespa; CNI; CIESP; Ministérios Federais e Agências Reg.; SUS; CES/FGV; jornais FSP, O Globo e O Estado;

sábado, 22 de agosto de 2009

FIM DO POÇO

Fim do poço, do túnel, da rosca...

O Senado da República viveu o seu dia mais vergonhoso, no ápice da crise que domina aquela casa legislativa.

Votava-se na Comissão de Ética e Decoro Parlamentar as representações contra os senadores José Sarney (PMDB-AP) e Arthur Virgílio (PSDB-AM), sendo que os senadores do PT eram o fiel da balança, para o lado que pendessem, esse seria o vencedor.

Incrivelmente, um senador do PT leu em meio ao encaminhamento da votação uma nota oficial em que o partido, na voz de seu presidente, o deputado federal Ricardo Berzoini (não vão acreditar os meus leitores), se manifestou da seguinte maneira-síntese: “A favor da admissibilidade da representação contra Sarney, mas a bancada votava contra”.

Nunca se viu nada igual. Era o achincalhamento do Senado e do PT, este último monitorado pelo Palácio do Planalto, com vistas à sucessão, de mãos dadas com Sarney.

E com Collor.

Por outro lado, a oposição viveu o máximo de seu constrangimento: ao mesmo tempo em que pregava a votação contra Sarney, tinha um dos seus maiores líderes, sem dúvida o maior, senador Arthur Virgílio também indiciado por quebra da ética.

Ou seja, como a oposição se sentia com Sarney, seu inimigo, e Virgílio, seu ás, sentados no mesmo banco dos réus, a desmentir a célebre sentença de Shakespeare de que não cabem quatro nádegas no mesmo trono?

O resultado só podia ser o esperado: Sarney e Virgílio foram inocentados de deslizes éticos indesmentíveis, o senador oposicionista acusado inclusive de ter dispensado um funcionário do seu gabinete para morar (estudar) no Exterior, às expensas do erário público.

Para o Partido dos Trabalhadores, foi ontem o pior dia. Além dessa trapalhada ininteligível de dialética hermafrodita na inacreditável nota oficial lida em plenário, anunciou-se a saída do partido da senadora Marina Silva, agora à procura de legenda, depois de 30 anos servindo admiravelmente à agremiação.

Para o Senado, outro pior dia, entre tantos dias piores que vem vivendo sob a execração do povo brasileiro.

O Senado espia envergonhado e amedrontado lá do fundo do poço.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

FATOR MARINA

A migração da senadora Marina Silva do PT para o PV e a possibilidade cada vez mais real de se lançar no jogo pesado da eleição à Presidência da Republica, em 2010, provocou uma turbulência inesperada no processo eleitoral que, antecipado no tempo, andava enfadonho demais. A decisão de Marina é um fato de importância na agenda real do País. Ao contrário, por exemplo, do emprego que o senador José Sarney intermediou para o namorado da neta dele, que se tornou denúncia de destaque na bandeira de hipocrisia da oposição.

Que papel a eventual candidatura da senadora Marina Silva pode representar no tabuleiro político? Há uma montanha de suposições sendo feitas sobre as chances eleitorais dela. Há também, bem defronte, uma montanha de problemas. Há quem acredite que, ao entrar na disputa, ela quebraria o caráter plebiscitário da eleição que os eventuais candidatos tucanos – menos Aécio e mais Serra – temem. Mas, se ela não tiver fôlego, o que parece mais provável, o plebiscito se daria no segundo turno inapelavelmente. A presença de Marina, muito provavelmente, acabará com as possíveis candidaturas alternativas da ex-senadora Heloísa Helena e do senador Cristovam Buarque. Esse, praticamente, já se ofereceu como vice.

Para o PSOL, seria uma temeridade. Heloisa Helena mantém um bom porcentual de intenção de voto nas pesquisas pré-eleitorais. Mesmo que o número míngüe, na reta final da disputa, como já aconteceu, a presença dela garantirá palanque para eleger, por menor que seja, uma bancada do partido no Congresso. Sem ela, o PSOL no Parlamento pode desaparecer.

As alianças partidárias seriam fundamentais para a senadora ganhar visibilidade. O Partido Verde dispõe de algo em torno de um minuto. O PV também não dispõe de uma base organizacional no País. Tem poucos vereadores, alguns prefeitos e nenhum governador. Carecerá também de recursos. Marina não aceitará trabalhar com caixa 2 por mais que o deputado Fernando Gabeira e o vereador Alfredo Sirkis, no Rio, tenham disposição para isso. Oferta de dinheiro não deve faltar, com a finalidade de impulsionar a candidatura, na suposição de que a petista Dilma seja afetada.

A candidatura presidencial do PV desmonta o único palanque possível que o governador José Serra tenta montar no Rio de Janeiro com o apoio, relutante, do deputado Fernando Gabeira, que, por sinal, já tem acordo firmado com o DEM. Aí já dá para avaliar certos impactos nefastos na trajetória transparente da carreira política de Marina. Será possível vê-la no palanque ao lado do ex-prefeito Cesar Maia? Para ele seria bom. E para ela? Marina não pode perder o sorriso, mesmo que mantenha o ar de mistério de Mona Lisa, ao discurso de encantador da elite brasileira e de seus porta-vozes a respeito dela. Subitamente desapareceu o preconceito que se cultivava contra Marina Osmarina da Silva Vaz de Lima, aquela militante nortista, acriana, alfabetizada a partir dos 15 anos. Pelos embates que travou nos “cinco anos, cinco meses e catorze dias” (ela memorizou o tempo) que passou no comando do Ministério do Meio Ambiente, é de supor que tenha perdido a visão ingênua do poder. Mas, ainda bem, não a ponto de esquecer as utopias sem as quais, efetivamente, a vida se torna corriqueira do princípio ao fim. Mas as utopias são sempre muito difíceis e demoradas de ser alcançadas pelo caminho do processo eleitoral. Lula, por exemplo, já sabe disso.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

SOLIDARIEDADE

Mauricio Dias, na excelente coluna “Rosa dos Ventos” da Carta Capital que está nas bancas, traz a reportagem “O Reino da Dinamarca – talvez a CPI da Petrobrás tenha de revolver o passado do rei Fernando Henrique”.

Trata-se de pormenorizada descrição dos favores que a Petrobrás do rei Fernando Henrique prestava.

Como se sabe, Mino Carta uma vez propôs um concurso – “quem é o maior Tartufo brasileiro?” -, e Fernando Henrique ganhou fácil.

Fernando Henrique e a Petrobrás eram particularmente generosos com D. Ruth Cardoso e sua obra, o Comunidade Solidária.

D. Ruth demonstrou uma sistemática incapacidade de prestar contas convincentes dos milhões de reais que recebeu da Petrobrás.

Luciana Cardoso, filha do rei, também recebeu “trabalho remunerado” pela Petrobrás.

Rodolpho Cardoso de Oliveira recebeu inúmeros repasses da Petrobrás e num dos papéis das transações contábeis há observação feita à mão: “Primo de FHC”.

Arthur “caso de psiquiatra” Virgilio foi tosquiar e saiu tosquiado. Das denúncias que bateram no Conselho de Ética do Senado, a única que sobrevive é a contra ele.

Essa CPI da Petrobrás, que pretende desequilibrar o presidente Lula e tomar o pré-sal para os que contratam FHC a US$ 50 mil por palestra (fora o jatinho) pode bater na D. Ruth.

Vai ser um Deus nos acuda.

Como se sabe, os demo-tucanos são muito chics e a Evita deles é a D. Ruth …

***

Pergunta sem licitação:

Aquela lona invisível sobre o plenário do Senado foi comprada pelo maior preço ou roubada do circo?

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

DE NOVO.

Teimo em renovar esperanças de que tudo será diferente. Chego a aceitar apostas e creio que, desta vez, acontecerá a depuração. O fim do recesso parlamentar em Brasília e a retomada das atividades de deputados federais e senadores serão marcos divisores entre um passado sem ética e um futuro de dignidade. Os que desacreditam apenas sorriem e alguns poucos verbalizam suas chacotas, dizendo-me que vai ser tudo igual outra vez. Fisiologismo, nepotismo, interesses escusos, maracutaias, farras de desvios e outros sinônimos da gandaia geral serão as palavras de ordem novamente.

Ainda prefiro acreditar na Constituição e nas leis. Ainda prefiro sentir-me garantido como cidadão, porque é firme a minha crença nas instituições que todos nós criamos para ordenar a vida em sociedade. Sigo acreditando, ainda que alguns sobressaltos nos aflijam, como o tropeço de um desembargador brasiliense, que atuou como um censor para impedir que chegasse aos meios de comunicação e ao público o que fora apurado contra o senhor Fernando Sarney, cujo nome não é mera coincidência. José, o chefe do clã, talvez renuncie à presidência do Senado, pela salvação de seu mandato. Cai fora e seus pares dão o caso que o envolve por encerrado. Volta mais tarde, menos exposto. A mesma fácil solução dada ao escândalo de um presidente anterior, Renan Calheiros. Tudo outra vez, como insistem em me convencer. E eu na teimosia de querer novos tempos, novas medidas, novíssima esperança. De nada valerá a tentativa de proteger a corrupção, tenho certeza. A reação ao autoritarismo daquele juiz é prova de que não me engano. Nada poderia ser tão ruim quanto a constatação de que a censura voltou. E dessa vez, de toga. Censura portando fuzis e calçando borzeguins eu conheci de perto. Togada, prefiro nem acreditar. Nada será pior para a democracia que um juiz praticando atos de um ditador.

Não que a Câmara navegue em mares menos revoltos, mas, no momento, é o Senado o cenário das piores manobras das aves de rapina. Os deputados, se quiserem, têm muito a fazer de bom e com urgência. Reformas política e tributária estão lá, esperando decisão. Os aposentados aguardam a resposta ao anseio de verem sepultado o fator previdenciário, mecanismo de empobrecimento dos rendimentos daqueles que já trabalharam e contribuíram uma vida inteira. Em compensação, tem coisa ruim projetada. Fala-se na criação de alguma figura parecida com a antiga CPMF. Seus articuladores prometem, sob juramento, que a nova cobrança, além de mínima, será mesmo para o custeio da saúde de nossa gente. Nessa nem eu acredito, com toda a minha boa vontade em ainda esperar que meios de controle e de fiscalização funcionem de verdade.

Destravamento de pautas como as do Pré-sal, CPI da Petrobras, punição dos corruptos, devolução de qualquer dinheiro desviado, respeito ao concurso de provas e títulos para ingresso no serviço público, agilização de todas as investigações e, por fim, uma faxina geral é o que se quer ver acontecer nas duas casas de nosso Congresso. Se a população quiser de verdade, conseguirá chegar perto desses sonhos. Por menos cuidadosos que sejam, os políticos são sensíveis a qualquer pressão popular. É o trabalho deles.

Se aquele juiz de Brasília não atrapalhar, a missão de limpeza um dia se completa. Tem muito deputado disposto a só fazer o bem, podem crer. Precisamos acreditar mesmo, que só assim daremos respaldo a quem esteja empunhando um balde, vassoura e panos para deixar tudo limpo e cheiroso na política desse país, como nunca antes terá acontecido em sua história. Vai ter que acontecer assim, ou estaremos fritos. Eu acredito, ainda que muitos me repitam que é hora de desistir porque vai ser tudo como sempre, outra vez.

domingo, 2 de agosto de 2009

BEBADOS ENGARRAFADOS

Vai adiante o relatório das minhas viagens nos últimos 15 dias no trajeto que vai da minha casa, em Santa Terezinha de Itaipu, até meu trabalho. Há centenas de motos que passam voando pelo meu carro, sem que sequer eu adivinhasse que me iriam ultrapassar, porque incrivelmente meus três espelhos retrovisores não as alcançam. Há em todo o trajeto, todos os dias, um desrespeito total dos motoristas aos pedestres e um desrespeito ainda talvez mais acintoso dos pedestres aos veículos. Uma zorra fantástica e macabra.

Agora, aqui na Avenida República Argentina, os leitores meus não vão acreditar, um ciclista corre em toda a pista do lado do 34º Batalhão do Exército na contramão. O ciclista enfrenta, durante um quarteirão inteiro, o fluxo de carros que vem da direção 34º- Av. Paraná, na contramão. Deus sabe lá como o ciclista se salva, se é que se salvou, eu não pude acompanhá-lo com os olhos porque o carro que vai na frente do meu faz neste momento o que fazem todos os carros que vão na frente do nosso: anda irritantemente devagar. E o carro que vem atrás do meu faz agora irritantemente o que fazem todos os carros que vêm atrás dos nossos: quer ultrapassar de qualquer jeito, tenta fazê-lo pela minha esquerda, não consegue, envereda pela minha direita e estou achando que vai me ultrapassar de qualquer jeito, mesmo porque, se não o fizer, ou baterá seu carro no meu, ou baterá no muro.

Cansados de esperar pela travessia, é inacreditável, um cego e a idosa que o conduz tentam atravessar a Avenida JK. São tão deploráveis o estado físico e a mobilidade da mulher que guia o cego, que este parece ter melhor preparo físico que a idosa, é incrível.
Depois de se esquivar de dois atropelamentos, o casal composto pela idosa e o cego consegue atravessar o leito da rua, mas os dois são xingados até a vituperação pelos motoristas.

Não há nenhum Guarda Municipal na rua, mas se houvesse mil não dariam conta dos excessos de velocidade dos motoristas e dos excessos de lentidão de outros motoristas.

Um rapaz está dirigindo na Avenida JK com um sorvete de casquinha na mão e o telefone celular colado no ouvido na outra, ele inacreditavelmente controla o volante com o seu fêmur direito, eu nunca tinha visto isso. Na Avenida Paraná, um rapaz dirige beijando a namorada, que quase avança inteiramente sobre a poltrona do motorista. A namorada, entre um beijo e outro no motorista, come pipoca, que tira direto do saquinho com a boca, sem ajuda das mãos: mas, é claro, as mãos dela se ocupam inteiramente em segurar ou tocar as várias partes do corpo do motorista-namorado.

Para mal dos pecados, surge avassaladoramente pela Rua Xavier da Silva um carro de bombeiros com a sirena a mil, alguns motoristas dão lugar ao atendimento de emergência com gentileza, outros não cedem lugar porque parecem ter mais pressa que os próprios bombeiros. Não sei que fogo esses motoristas dos carros vão apagar.

Agora, ali na frente, surge estapafurdiamente um bêbado bem no centro do leito da rua. Ele cambaleia, mas se recusa a fazê-lo na calçada, teima em ir ziguezagueando pelo meio da rua, interrompendo todo o trânsito. Por sinal, nunca entendi por que todos os bêbados que já vi em minha vida cambaleiam pelo meio da rua, nunca pelas calçadas. Um outro bêbado, vindo do mesmo bar de onde surgira o primeiro, demonstra a intenção de retirar o colega do meio do trânsito. Meu Deus, onde me meti? Desculpem o trocadilho, mas agora são dois bêbados a engarrafar o trânsito!

Isto tudo aconteceu em vários dias dentro de uma quinzena. Mas fatos isolados assim ocorrem todos os dias no meu caminho de casa para o serviço e vice-versa. O trânsito enlouqueceu ou o trânsito está me enlouquecendo? Prefiro riscar um duplo.

EM NOME DE DEUS

Olhem o diálogo entre José Sarney e seu filho, transcrito em gravação por todos os jornais do país:

FERNANDO SARNEY (O FILHO) - Bênção, pai.

JOSÉ SARNEY (O PAI) - Deus lhe abençoe. Você não tinha me falado no negócio da Bia (neta de José Sarney e filha de Fernando Sarney, os integrantes deste diálogo).

O diálogo prosseguiu com Fernando pedindo a intervenção do pai, José Sarney, para nomear um namorado da neta de José Sarney e filha de Fernando. Resultado desse diálogo: o namorado da neta foi nomeado funcionário do Senado, onde hoje Sarney é presidente e sempre foi e para sempre será senador, em ato secreto assinado por Agaciel Maia, ex-diretor-geral do Senado, completamente enrolado em centenas de irregularidades cometidas em seu cargo.

Notem que o nome de Deus é usado por Sarney no telefonema com o filho. O nepotismo no Brasil, como se vê (e se ouve), é transcorrido em nome de Deus. Ou seja, os nepóticos creem não só que não é pecado nepotiar como também citar Deus em seus nepotismos. Em suma, acreditam que praticar nepotismo usando o nome de Deus não quer dizer uso em vão do nome divino.

Sarney e sua família mamam nas tetas do erário público desde antes de Pedro Álvares Cabral aportar na Bahia. Sarney e seu filho Fernando se julgam ser Rômulo e Remo e se arvoram em mamar nas tetas da Loba do Capitólio, como se ela fosse o Tesouro Nacional. O ditado filosófico antigo que apregoa que “o homem é lobo do homem” foi corrigido milênios depois no Brasil: o nepotismo é lobo do contribuinte.

O gaúcho diz que o quero-quero canta num lugar e põe o ovo no outro. Pois incrivelmente isto acontece com Sarney, que com o quero-quero tem o seguinte parentesco: Sarney é o protótipo do político brasileiro que encarna o QUEROMEU, personagem de Luis Fernando Verissimo. Sarney não para de querer. Quanto mais quer, mais leva dos cofres públicos. E tanto Sarney põe o ovo num lugar e canta no outro, que nasceu no Maranhão, viveu pouco no Maranhão, mas é para lá que encaminha o grosso de seu patrimônio, mas é senador pelo Amapá. O Sarney senador pelo Amapá, sendo maranhense, é um escândalo tão tonitruante quanto à hipótese louca do Pedro Simon ser eleito senador nas próximas eleições pelo Tocantins.

O nepotismo e a corrupção no Brasil mudam a geografia. Ou melhor, o nepotismo e a corrupção no Brasil não têm no mapa.

Por que causa tanta revolta justa no Brasil o nepotismo? Porque, se todos os políticos empregarem seus parentes no serviço público, fica desigual: não há lugar para os outros brasileiros na sinecura. Incrivelmente o nepotismo não é crime, não passa de uma irregularidade. Quando, em realidade, ele é um dos maiores crimes: destinar o serviço público para parentes e apaniguados é atacar frontalmente o sublime instituto do concurso público, a única forma justa de escolha de ocupantes dos cargos públicos. E não vale dizer que o nepotismo no Brasil se caracteriza nos cargos de confiança. Porque, na verdade, a maior parte dos funcionários públicos brasileiros entraram no serviço público pela via do cargo de confiança. Depois, espertamente, os políticos efetivam os ocupantes dos cargos de confiança e eles se tornam estáveis.

Isto é nojento.

SIMPLES TELEFONEMA

A Federação Nacional dos Médicos (Fenam) divulgou nota na sexta-feira referindo-se a um acontecimento ocorrido no Rio de Janeiro e que acabou tendo repercussão nacional. Tudo começou no domingo, 26 de julho, quando a juíza Luciana Lustosa (TJ-RJ), atendendo a um pedido da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, determinou que uma paciente internada no Hospital Santa Maria Madalena fosse transferida para um leito no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) da rede pública de saúde. Esta determinação foi reforçada na quarta-feira, 29, pelo juiz André Nicolitt (TJ-RJ). Contudo, e por causa da gripe suína, não havia leitos disponíveis na CTI e a transferência não ocorreu.

A partir daí, começa a controvérsia. A internação de pacientes no Rio está a cargo de um órgão, a Central Estadual de Regulação. No momento, supervisionava a atividade a médica Ana Murai, do Instituto de Assistência dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro (Iaserj). Segundo a nota da Fenam e do Simers, e segundo notícia da Folha de S. Paulo, a médica foi presa por ordem do juiz. Segundo a Associação de Magistrados Brasileiros (que tem a sigla AMB, ironicamente a mesma da Associação Médica Brasileira), o juiz André Nicolitt, depois de conceder duas horas para o cumprimento da ordem judicial, “convocou a médica Ana Murai para prestar esclarecimentos”. A médica foi até a 5ª DP (Lapa), depôs por mais de três horas, e foi liberada. À saída, declarou à imprensa: “O juiz me deu duas horas para resolver um problema que não tinha como ser resolvido. Eu cumpri três mandados judiciais e não cumpri o dela não porque não quis, mas porque não pude. Ele poderia ter me ligado, perguntado. Eu tinha ontem 118 pacientes na fila de CTI. O juiz viu o lado de uma paciente, eu tenho 118 lados para ver. A gente tem um surto de gripe A, um bando de pacientes morrendo e não pude trabalhar”. O secretário estadual de Saúde, Sérgio Côrtes, apoiou-a: “O que se ganhou com a prisão dela? Iríamos cumprir a decisão tão logo tivéssemos um leito”. O Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro) repudiou a decisão do juiz e ofereceu suporte jurídico à médica.

O ocorrido remete a um problema antigo. Quem trabalha em saúde sabe: as demandas são ilimitadas, ao passo que os recursos são limitados, sobretudo num país pobre como é o Brasil. Decisões judiciais podem determinar que os órgãos de saúde prestem serviços ou forneçam medicamentos; mas daí a prestar os serviços ou fornecer medicamentos vai uma distância enorme. É um conflito, e o ônus, além de pesar dramaticamente sobre pessoas doentes e desamparadas, também recai sobre a figura do médico que aí fica como o marisco, entre o mar das reivindicações e o rochedo das limitações públicas. Mas a situação poderia melhorar se houvesse um canal de comunicação, direto e eficiente, entre Justiça e Saúde. No caso, não poderia o juiz ter telefonado? Para atender à determinação deste, a doutora Ana teve de abandonar o plantão, com óbvios prejuízos para seu trabalho. Ninguém ganha com essa briga, ninguém. Ao fim e ao cabo, vale a sensata afirmação de que, falando, a gente se entende. E, esclarecendo dúvidas, pode-se resolver muitos problemas.